sexta-feira, 8 de abril de 2011

Meu mundo.


Cabelos presos, ar-condicionado ligado, pijama fresco e em perfeito estado, vinte e quatro horas sem dormir... Acho que estou pronta para deitar. Olho no meu relógio de pulso mais uma vez, falo com a mente como se fosse criança, ponteiro menor no quatro e o maior no doze, o outro não para de correr. São exatamente quatro horas. Quatro horas da manhã ou da madrugada, chame como quiser.
Ultimamente não tenho certeza de mais nada. Meu coração não bate mais de acordo com a minha mente e me sinto tremula só de pensar naquele sorriso. Mas eu prefiro não falar sobre isso, pelo menos não agora. Passaram-se exatamente duas semanas desde o termino do namoro e depois de quatorze dias é que a insônia chega. Tenho certeza, isso não é normal. Talvez esse aperto no peito seja pelo fato de ter achado o anel maravilhoso que ganhei no nosso aniversario de namoro, e o ter jogado fora. Deve ser isso, dever ser a culpa, arrependimento ou qualquer uma daquelas coisas que sente quando se faz algo sem pensar e acabada descobrindo que não deveria ter feito... Passaram-se quinze minutos e eu ainda estou falando sozinha na beira da cama, com a pantufa da minha irmã e meu pijama branco que ele me deu no ultimo mês. Por sinal, esse pijama parece ter o cheiro dele, e por mais que não devesse, costumo amar esse tipo de coisa. Dou um passo, tiro as pantufas e me deito. Diminuo a temperatura do ar, preciso ocupar minha cabeça tentando me esquentar. Acho que isso me fará bem na tentativa de esquecê-lo.
Encosto minha cabeça no travesseiro e me cubro com um ou dois edredons. Fecho meus olhos e tento ocupar minha cabeça com algo útil. Não consigo. As falas românticas do filme que minha irmã estava assistindo me faziam lembrar ainda mais da voz dele ao pé do meu ouvido. Sussurrando aquelas mesmas palavras... Abro os olhos, desligo o ar, levanto da cama e dou praticamente dez passos até a pegar meu celular jogado em um canto do guarda-roupa. Passo pelo numero dele umas cinco ou seis vezes, mais desligo antes de discar. Minha agenda era mais bonita quando o nome dela era seguido por “amor”. Agora não, está só o nome, pois não seria nada agradável deixar lá até que umas das minhas amigas perceberem que eu não queria aceitar a escolha que ele fez por nós dois. Seria ainda mais difícil se isso acontecesse, por enquanto estou enganando elas, já que não posso enganar a mim mesma. Deixo uma foto nossa na tela do telefone e me deito no canto do quarto, perto da janela, dou mais uma olhada no relógio, agora faz vinte e seis horas que não durmo.
Seis horas da manhã, o sol já esta para nascer e eu ainda não dormi. Passei mais uma noite pensando em como seria bom se eu conseguisse não pensar mais nele, mas acabo pensando, só pelo fato de pensar em não pensar. Sou confusa, eu sei, mas nada que veio de mim até hoje conseguiu ser concreto. Pego meu celular outra vez, penso em ligar, mas não ligo. São exatamente seis e meia e eu entro no trabalho as oito, ainda não dormi, mas vou tomar um banho e ir trabalhar com o meu melhor sorriso. Com aquela mesma mascara que estou usando a duas semanas dizendo que eu sou extremamente feliz, mas eu não sou. Não depois que ele se foi... Antes que eu comece a lamentar por ele ter me deixado outra vez, retiro meu pijama e entro embaixo do chuveiro com uma água bem quente, preciso relaxar. Fico embaixo no chuveiro por mais ou menos quarenta minutos, e desses quarenta minutos, trinta e nove eu pensei nele. Não está sendo nada fácil, eu confesso. Coloco a roupa do trabalho e desço as escadas pensando em pedir férias e sair de viagem, sozinha, em um lugar deserto, só para esquecê-lo. Meu sonho era ir para Paris, mais isso nós queríamos fazer juntos e esse sonho sem ele seria um pesadelo.
Chego à sala, vou até o quarto de meus pais, bato levemente na porta e entro para dar-lhes um beijo de bom dia. Digo que estou bem e estou indo para o trabalho, que estou levando a chave comigo e que a reserva está na ultima gaveta do guarda-roupa da minha irmã. Saio do quarto deles, pego um iogurte na cozinha e fecho a porta da sala praticamente em silencio. No caminho até o carro passo na caixa do correio e encontro uma carta em meu nome, sem remetente, apenas meu nome. Não dou muita importância, entro no carro e jogo-a em cima do banco do carona.
No caminho até o trabalho encontro um transito terrível que me obriga a parar e esperar lembra-me da carta e decido abri-la. Tinha certeza que era mais uma carta oferecendo um cartão de crédito, mas ao ler a primeira palavra já tenho certeza que estava enganada. A carta era dele. Meu coração disparou e comecei a tremer, mal conseguia ler. Dizia que fazia mais ou menos vinte e oito horas que ele não dormia, só pensava em mim, que sentiu seu coração apertado, como se meu coração batesse junto ao dele e que só agora percebeu que o que nos faz viver é o amor que nos une. Palavras bonitas, que inundaram meu carro de lagrimas. Junto com a carta estava outro envelope, um pouco menor, abro-o tremendo e choro mais... Era um bilhete, pedindo para eu voltar para a casa. Fiz o retorno sem ver pra onde estava indo e não sei como cheguei até a minha casa. Sai do carro, bati a porta e entrei em casa, subi as escadas correndo e entrei em meu quarto. Tudo estava normal. Um desespero tomou conta de mim, olhei pela janela e não vi nada, comecei a chorar feito uma criança...
Minutos depois, ouvi alguns passos, deveria ser de minha irmã curiosa, então nem me importei em olhar. Só me virei quando senti dois braços fortes sobre mim e o cheiro dele. Ah, aquele cheiro. Olhei para ele, ele também estava chorando e percebi que em suas mãos havia duas passagens, para Paris, e seus olhos diziam que ele não aceitaria não como resposta. Eu não respondi, apenas o beijei e recebi aquele abraço forte que só ele tem. Mas se quer saber, dizer não é a única coisa que não passou pela minha cabeça daquele momento. Está na hora de abraçar meu mundo e esquecer todo o resto.